A menina.

Há uns meses recuperei a minha alma,

Não está intacta nem imaculada,
Mas sim menosprezada e espezinhada.

Descobri que com tempo e paciência,
Vou conseguir restaurá-la.
Descobri também que continuo a acreditar no amor
E que nem toda a gente vale nada.
Descobri que é possível voltar a amar e ser amada.
Mas antes de tudo isso,
Com cuidado e sacrifício,
Vou aprender a amar-me e a cuidar-me,
Para me permitir ser cuidada.
Com responsabilidade emocional e afetiva,
Para não depositar em alguém os demónios
Que a mim me fizeram cativa.

Odiaria agora pensar,
Em tal hipocrisia,
Ter a oportunidade de amar
E fazer outra alma sofrida.

Descobri a menina dentro de mim,
Que pensava estar perdida.
Uma boa parte dela foi arrancada,
Mas ficou outra parte pequenina.
Bem lá no fundo,
Ela se tem aguentado,
Com lágrimas e soluços,
E o terror no seu rosto estampado.

Dei-lhe a mão e perguntei
"Estás bem, queres ficar mais um bocado?"
Ao que ela me respondeu
Com um acenado.

Deixei-a estar e prometi-lhe
Que dela iria cuidar
Aos poucos com amor
Para não a voltar a assustar.

-scmm