quinta-feira, 17 de julho de 2014

Choros de desespero


Já tive o homem perfeito.
Já tive aquele que me amava sob qualquer circunstância. Já tive aquele que era feliz com a minha felicidade. Aquele que só de olhar para mim sorria e eu já só por aí conseguia ver que ele me amava. Aquele que sabia todos os meus defeitos, que sempre foram mais que as qualidades, e podia enumerá-los de cor e salteado. Aquele que, mesmo eu sendo injusta como tantas vezes fui, continuava lá para mim. Aquele que fosse a que horas fosse me respondia às mensagens e chamadas. Aquele que independentemente do assunto e do problema existente, estava sempre disponível para me ajudar. Não era só o mero namorado que hoje em dia a nossa sociedade insiste em pintar. Havia mesmo amizade, carinho e amor acima de tudo. Mas e quando tudo isso começa a falhar? Como é que é quando simplesmente a troca de argumentos é substituída pelos gritos de uma discussão? Quando os sorrisos e as rosas são substituídos pelos choros de desespero? Quando o carinho e a confiança dão lugar a espaços vazios e pontapés na auto-estima?

O problema é que, para dar continuidade a uma relação, temos que manter o mesmo empenho e dedicação impostos inicialmente. Maioritariamente, tendemos a esquecer que a relação não anda sozinha, é sempre preciso trabalhá-la quer tenha 2 meses, 5 meses, 9 meses, 1 ano, 3 ou 6 anos. Já dei conta de pessoas que se queixavam que o parceiro não fazia nada, já não queria saber, e isto e aquilo. Mas quando eu perguntava "e tu? Já falaste com ele/a?" simplesmente me diziam que não; ou "já tentaste, ao menos, falar?" e o mesmo não como resposta; ou "então e tentares?" e a resposta vinha algo do género "achas, estás maluca! Se ele/a não fala nem faz nada, eu também não!". E isto é algo bastante comum, infelizmente. Constantemente ficamos à espera que seja sempre o outro a resolver tudo e, no caso das mulheres então, é a típica desculpa do "ah, ele é que é o homem!". Mas por muita culpa que tenha um ou o outro a relação não envolve só um, envolve os dois. Como tal têm os dois que trabalhar em uníssono para que resulte, para que mesmo quando está algo a falhar, rapidamente seja corrigido. Conheço uma frase que diz "se a relação envolver menos ou mais que dois, já era", e com isto está tudo dito. Falando do "menos que um", tem um bocado a ver com o já referido acima; se lutarmos em vão por algo e alguém que não está "nem aí" e que, mesmo sabendo o que nos afecta o faz, então de certeza que algo está mal e está na hora de dar um abanão à pessoa em questão. Mas é a tal situação de lá continuarmos porque temos esperança. Esperança de que esse alguém abra os olhos e nos diga "ei amor, eu estou aqui. Desculpa por tudo, quero corrigir todos os meus erros. Amo-te", ou simplesmente apenas um "desculpa, amo-te"... A vontade de o ouvir e a fé de o ouvir são tantas que aguentamos o peso do mundo às nossas costas, caso seja preciso. Até não dar mais...
Quanto ao "mais que um" nem há nada a dizer.

Certamente que quem quem está a ler isto, já pensou mais que 100 vezes que ninguém é assim. Que ninguém se vai colocar no papel do que diz "desculpa, amo-te" e dar o braço a torcer desse modo. Mas a verdade é que há quem o faça. Lembro-me como se fosse ontem de ouvir o primeiro "desculpa, amo-te" que me deram. E podia voltar a ouvi-lo como se fosse a primeira vez. Diria que é como uma espécie de canção que nos acalma o coração, nos limpa as lágrimas que tão insistentemente escorregam e nos abraça os soluços.  A meu ver, são duas das palavras mais difíceis de dizer a alguém, seja em que contexto for. E se separadas já têm o poder que têm, juntas na mesma frase então ganham um poder imenso na concretização de qualquer objectivo. Contudo, não é todos os dias que se ouve tão maravilhosa frase, tal como não é todos os dias que existem pessoas capazes de a dizer. Se tivesse que fazer uma estimativa, era capaz de afirmar que apenas uma pessoa em todo o mundo diz esta frase por dia, e é de ter atenção que o mundo tem 7 ou 8 biliões de pessoas. E para não me chamarem feminista pretendo acabar este texto dizendo que provavelmente, dos que vão dizendo todos os dias ao longo do ano aquela preciosa frase, metade são homens e a outra metade mulheres. Mas isto é só o que digo agora, não sei se é bem aquilo que acho... Cada pessoa é uma pessoa e cada relação uma relação.



Redigido por: SusanaCMMelo




terça-feira, 15 de julho de 2014

Odeio iogurtes.




Odeio iogurtes. Odeio. Dão-me a volta à barriga, enjoam-me, sabem mal, alguns deles até cheiram mal. Mas dou por mim a comer iogurtes como um macaco come bananas. Acho incrível a capacidade que o ser humano tem de suportar coisas de que não gosta, que lhe fazem mal e por aí além. Se bem que o iogurte não é mau no sentido em que entre ter um bolo com cobertura de chantilly e um iogurte, óbvio que é mil vezes mais saudável comer a porra do iogurte. E cá em casa é assim. A titi faz questão de ter mil e uma espécies de bolos, doces, bolachas e afins, e eu que faço questão de tentar ser aceitavelmente elegante, tento fugir a essas injecções de calorias. Sim, porque toda a gente sabe que eu estou sempre a comer. Tenho sempre comida comigo, mas dessa comida que tenho tento ser o mais saudável possível nas escolhas que mantenho na minha mala. Voltando ao tópico inicial dos iogurtes: odeio mas como. E agora é que vem a questão fundamental… como é que nós, seres humanos, pessoas, com sentimentos, sensações (e por sensações obviamente que me refiro às 5 sensações: visão, audição, olfacto, paladar e tacto), com capacidade de reconhecimento dos nossos gostos, qualidades, defeitos e tudo o mais, porquê que na hora em que temos que lidar com um homem (ou uma mulher), não conseguimos juntar tudo isso em nosso favor?  É que eu juro que não me cabe na cabeça como é que nós, mulheres, somos capazes de aguentar tanto. Digo as mulheres porque desde há muito tempo que considero que as mulheres dentro de uma relação e fora dela, têm uma maior capacidade de sofrimento do que os homens. Os homens perdem a paciência rápido, com grandes dramas, com grandes indecisões, com grandes esperas. Para eles ou é ou não é, e se é então que seja logo. Não se deixam perder tempo na indecisão, não se deixam na esperança, não se deixam em stand-bye. Não aguentam ficar uma noite em casa sabendo que nessa noite a namorada deles vai sair. Não aguentam ficar meses na esperança de que na relação algo mude. Não aguentam que algo esteja mal para o lado deles. Quando está, simplesmente vão sair, ou batem a porta. Nós não. Nós temos sempre aquele fio de esperança que nos faz ficar à espera da mensagem que nunca vai chegar, da chamada que nunca vamos ter o prazer de rejeitar. Porque eles não se deixam rejeitar desse modo. Mas nós acabamos por deixar. Corremos mil vezes atrás do mesmo homem, mesmo sabendo os seus mil defeitos, mesmo tendo consciência de que ele nunca vai mudar e nunca nada vai mudar e ser como nós queremos que seja. Já tive amigos meus (homens) que me perguntavam como é que eu aguentava, que se fossem eles não conseguiam, que para aguentar todas essas coisas é preciso ter uma grande capacidade de sofrimento. E é coisa que eu sempre tive. E apesar de agora ao olhar para trás sentir que fui literalmente uma burra, sinto-me menos mal quando percebo que tal como eu há muitas outras. 

Ontem estava a falar com uma das minhas melhores amigas e claro que um dos assuntos foi rapazes. Naquela conversa, em cada coisa que ela dizia era como se eu estivesse a reviver a minha vida amorosa dos últimos tempos. Basicamente ela vive algo baseado no “um dia de cada vez, amanhã logo verei como será” e até aí tudo bem. O pior é quando chega a parte do “eu já não digo nada”. Quantas de nós nos cansamos por lutar vezes sem conta por algo que não muda e só piora? Mas apesar de tudo ficamos lá, porque apesar de tudo é lá que sentimos que pertencemos e apesar de tudo continuamos a amar aquela pessoa. Mesmo que seja a pessoa mais retardada à face da terra e mesmo que só faça merda corrida. No fundo é a tal réstia de esperança que nos faz permanecer lá, mas será que essa réstia de esperança dura muito mais tempo? A verdade é que essa tal “réstia de esperança” chega a durar mais tempo do que toda a outra esperança que já se esgotou. Acho que é porque quando não queremos ir embora nos agarramos com unhas e dentes, e damos desculpas a nós próprios como, por exemplo, “ah não, isto é só uma fase má que está a demorar a passar” ou “eu sei que ele não faz por mal” ou “ah ele tem andado ocupado, não tem dado para conversarmos com cabeça sobre os assuntos a falar”, enfim, mil e uma desculpas esfarrapadas que damos a nós mesmos para desculparmos os outros e assim, prolongarmos um bocadinho mais o nosso miserável sofrimento. A pergunta que acabamos por fazer constantemente ao final do dia é “será que vale a pena?”. Acho que acabamos por nunca saber ao certo. Porque nas alturas em que nos enganamos a nós próprios só para não irmos embora é porque não queremos ir embora (logicamente) e por isso, nessas alturas achamos sempre que vale a pena. Mas e no fim, vale mesmo a pena? Se existe tanto sofrimento, tanta angústia, tantas palavras engolidas em seco, porquê continuar? Mas pegando num outro ponto de vista: se há tanto sofrimento aguentado até ao momento, então não será isso sinal de que vale a pena?

Já não sei.. estou confusa e com fome, vou comer um iogurte.

Talvez comer os iogurtes seja numa tentativa de digerir mal suficiente para não ter de digerir mais males. Acho que é isso, talvez seja isso. Se calhar devia apostar no Actimel, aquele do L. Casei Imunitass, e deixar os continentes e os nestlés da mão. Chega de males, chega de dores no peito e sufocos. Chega de engolir sapos. Simplesmente chega. Sou nova demais para isto. Porquê dar o meu coração a partir agora? Mas para quê e porquê guardar os cacos partidos? Não quero coração, nem corações. Nem sapos. Quero um iogurte.

















Redigido por: SusanaCMMelo



domingo, 13 de julho de 2014

Sinceramente?



Sinceramente? Começo a sentir saudade dos tempos em que adormecia sem pensar em nada. Dos tempos em que apenas pensava nos meus dias, como quem fazia uma revisão dos últimos acontecimentos. Dos tempos em que não sentia constantemente aquele aperto que me impede de respirar livremente. Dos tempos em que podia fechar os olhos sem que tu me viesses à mente. Tempos esses em que não tinha medo de que ao fechar os olhos me escorressem quaisquer lágrimas. Mas esses tempos não voltam.

Quanto mais vamos vivendo, mais temos para reflectir. Talvez não esteja a ser clara. Vou dizer antes: quanto mais vivemos e por conseguinte experienciamos, e portanto, nos dispomos a sofrer, com mais cicatrizes ficamos. De modo que, quando não queremos pensar em nada, vamos sempre pensar em algo. Simplesmente porque a nossa mente gosta de nos torturar e se mantém activa 24/7. Por isso, quando não arranja nada recente para nos massacrar lá vai ela buscar “coisas” que achávamos que já estavam no baú. E não me digam que não é assim. Quer queiramos, quer não, vamo-nos sempre lembrar dos que nos magoaram… e dos outros. Digo “os outros” porque não é possível não magoarmos alguém nem não sermos magoados. Mais simples não há. Podemos ter o maior cuidado do mundo, que vamos sempre acabar por magoar alguém e alguém vai-nos sempre magoar. Seja com uma palavra, um gesto, uma atitude… sei lá, até um olhar. Daí que, seja em que altura for, o pensamento sobre determinada(s) pessoa(s) vai sempre aparecer. E aí é que está o mal. Sei isto com toda a certeza porque já me lembrei de pessoas que pensei já ter esquecido. Já me lembrei de coisas que pensei já ter enterrado. E vivi feliz e despreocupada a pensar que estava de novo livre mas de um momento para o outro vi-me a chorar por esses mesmos esquecimentos que não estavam, afinal, esquecidos.

Tudo isto porque nunca se esquece alguém que passou pela nossa vida. Seja uma boa ou má pessoa. Tenha sido uma boa ou uma má experiência. Já dizia o ditado que
“Aqueles que passam pela nossa vida não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”
Contudo, eu gostava de conseguir escolher o que é que cada um me deixa. E assim fazia um saquinho, mais feliz e recheado do que aquele que já tenho. Uma espécie de pote de ouro que me levasse ao outro lado do arco-íris. Ou não, espera. É ao contrário. Sendo assim, porquê que ando a coleccionar tanta merda?




Redigido por: SusanaCMMelo