quarta-feira, 20 de maio de 2015

Agridoce.



Ter-te e não te ter é sinónimo de olhar para ti e vir-me o medo de que dum segundo para o outro mudes aquilo que sentes por mim. Sei que não escolhemos de quem gostamos e como gostamos e sei que é mais um daqueles medos que não são racionais, como tantos outros. Mas o que seria de mim se fosse tão racional? Se o que eu sinto fosse tão racional?
Ninguém fez de nós as pessoas certas, nem tão pouco as pessoas certas um para o outro. Ambos sabemos melhor que ninguém que somos errados. Sempre fomos. Errados e do avesso. E ainda ao contrário. Como a mistura do doce e do salgado. Algo a que muitos chamam de agridoce. 
Nem agridoce, nem doce, nem salgado.
Um nada exclusivamente perfeito e único. E podíamos os dois num dia qualquer querer atingir um só pólo. Querer o doce do açúcar ou o salgado do sal todos para nós, numa medida só e duma maneira acertada. Como numa receita de cozinha. Mas ao contrário do que muita gente diz, o amor não vive de receitas. Eu não escrevi a receita de como me apaixonar por ti, nem tu deste as dicas para tal. Contudo vivo com isso. Porque tenho que. E mesmo que não tenha, eu assim me deixo ficar. E é este deixar-me ficar que me assusta. E se tu não te quiseres ficar? Se num dia qualquer acordes com menos vontade de mim? Se me olhes e me aches a mulher mais feia ou nem vontade tenhas de me olhar de todo. Se não tiveres vontade de te voltar a deitar comigo. Não me assusta que não me dês o boa noite, que não tranques a porta ou que deixes o tampo da sanita para cima. Assusta-me que mudes os teus vícios e manias para que eu deixe de te ver. Para que eu deixe de te conseguir decifrar. De que me serve não conhecer os teus vícios se conheces os meus.
De que me serve ser a mulher por quem os teus olhos não olham mais, se é o oposto disso que quero ser para sempre?  Dá-me apenas o único para sempre possível que é o teu. Sem extras e sem favores. Dá-me a tua melhor colecção de instantes e deixa-me reinventá-la. Como quem reinventa um novo parágrafo ou um barco. E desengane-se quem acha que reinventar um parágrafo é fácil. Cada palavra e cada vírgula estão colocadas num local estrategicamente perfeito. Então dá-me. Enrola num papel de embrulho ou num saco de plástico e dá-me. Como quem dá o mais simples pedaço de papel, estimado como se fosse um pedaço de pergaminho. Eu cuido, amo e aplico. E quando vieres fica. Fica como quem quer, como quem ama. Fica como tens ficado. Amando ou não. Querendo ou não. Mas fica. Porque querendo ou não, vamos amando.





Redigido por: SusanaCMMelo



quinta-feira, 7 de maio de 2015

Não fosse o diabo tecê-las.

E nada era como eu tinha imaginado.
Tu não eras um príncipe e eu nem tão pouco era uma princesa. Não partilhávamos o pôr-do-sol nem me oferecias flores. Não íamos ao cinema nem a jantares românticos. E aquilo que para muitos era errado e impossível de resultar para nós fazia todo o sentido. E eu gostava de ver o teu esforço em me arrancar sorrisos a toda a hora, mesmo que para isso não tivesses que te esforçar muito. Era uma coisa genuína. Nós éramos genuínos. Sem pressas e sem empurrões apenas preocupados em trilharmos um caminho só nosso. E sem qualquer destino. E eu posso-te dizer como eu adorava isso. De tão incerto que era tornava-se certo. E eu não queria saber do que os outros diziam desde que te tivesse a meu lado. E tinha. E a vida assim tornou-se normal. Mesmo sem horas marcadas, sem dias marcados, sem rotinas traçadas. Sabendo que te via hoje mas podia não ver mais durante 2 semanas. Mas sabendo que daqui a duas semanas a tua alma pertencia-me na mesma. E sem saber como nem porquê tinhas o meu coração e tudo de mim. E eu não me preocupava minimamente se deixavas o meu mundo cair porque tinha na confiança que não o permitirias.
E de tão raros que somos eu estimava-nos de uma forma nunca antes vista.
E guardava aquilo que sentia por ti dentro de uma caixinha fechada a 7 chaves, não fosse o diabo tecê-las.
Não fosse o alheio invejar-me.
Porque dizem que é isso que se faz ao amor da nossa vida, protegemo-lo de possíveis abutres. No entanto nunca te enclausurei, e essa era a melhor parte. Saber que voltavas para a minha mão por escolha própria. Saber que era a mim que escolhias.
Deixar-te livre e voltares bastava-me.
Talvez porque para mim era também a prova de amor que eu estava disposta a dar.
Selvagem, sem quaisquer amarras.
Sempre voltando um de encontro ao outro. E não há nada neste mundo nem em todos os outros mais leve que isto. Como a vida na sua imensidão se tornava fácil assim. Se tornava suportável.
 E era só disso que eu precisava.

De uma alma leve e selvagem tão idêntica à minha.





Redigido por: SusanaCMMelo



segunda-feira, 4 de maio de 2015

Vi-te por aí, anjo.

Vi-te tantas vezes por aí…

Sempre dona do teu nariz, sempre confiante no teu andar. Agora sim reparo nos olhares de desejo com que muitos homens te olham. 

Para mim nunca fez sentido querer estar com alguém permanentemente nem deixar-me levar por qualquer tipo de sentimento que englobasse mais do que uma simples conexão de amizade, se tanto. Mas agora eu percebo que qualquer coisa mudou. Percebo que os olhares dos homens que te desejam me incomodam e que a insignificância que me dás me mata. 

Fazes-me sentir fraco e absurdo. 

Fazes-me procurar-te em cada quarto que visito, em cada aroma que sinto. 

Como se cada quarto que eu visitasse fosse o correcto. Como se cada quarto tivesse o aroma e o ambiente ideais. Como se cada uma daquelas mulheres tivesse o ideal para serem minhas. 

E tão depressa as quero a todas como não quero nenhuma. 

Fazes com que te procure em todas elas. Mas por muito que eu negue há qualquer coisa que te faz ser tão tu. 

E cerro os dentes e os punhos quando te ouço rir perto dele. 

E dá-me uma vontade louca de mandar o mundo abaixo quando te vejo por aí. 

Saber que tive tudo e tudo perdi. 

Que se lixe o karma quando te podia era ter a ti. 

Mas parece que ele veio para ensinar, não é? 

E de pensar que tantas vezes me avisaste indirectamente e que eu todos esses avisos percebia mas ignorava. Sempre achando que dava conta de todas as aldeias esquecendo que tinha uma cidade na minha mão. Estraguei a mulher que eras mas vejo que te recompuseste e te ergueste melhor ainda. Não que te quisesse ver mal mas apenas minha. 

Fazes-me sentir doente, insano. 

Dei-te o pior de mim e deixaste a descoberto o que havia de melhor, que eu nem eu sabia que existia, mas e agora, dou esse melhor a quem? Quando a única pessoa a quem quero dar é a ti. 

Tantas barbaridades, lamentações e caminhos vazios. Por cada uma delas uma garrafa de álcool e para arrebatar um coma alcoólico. E se for agora que te vejo novamente ao pé de mim, que ele perdure para sempre. 

Junta este a todos os outros erros, anjo meu.



Redigido por: SusanaCMMelo