quarta-feira, 20 de abril de 2016

Apaixonei-me e nem sei como.



Chega uma altura em que já não sentes as borboletas da adolescência. Nem o corpo a tremer da ansiedade constante. Nem a curiosidade do que vem a seguir.

Não sei o que sentes ao certo. Talvez a felicidade de algo que sabes que pode durar. Independentemente de quem tenha estado e já não está. De quem tenha ido e confias que não volte mais. Já não dás o teu mundo, nem prometes outros mundos. Sabes o que tens e o que vales e isso chega. Chega uma casa com paredes arranhadas. Chega abrir uma janela para o sol entrar. Tudo porque sabes que antes de ti houve outro mundo. Tal como sabes que tu já tiveste outro mundo. E passas a aceitar isso. E o mais incrível é que o entendes.

Sabes o desgaste do que falhou. Sabes o desgaste do que não serve mais. Seja porque for. E aceita-lo.
Apaixonei-me e nem sei como.

Nem sabia que era capaz de tal.

Apaixonei-me por alguém com cicatrizes mas que ainda assim, me consegue fazer sorrir. Nem eu sabia que em alguma divisão pudesse caber tanta cicatriz. Talvez por sabermos que em algum lado pode haver alguém disposto a dividir as nossas cicatrizes e a fazer-nos deixar de calcar nos nossos calos.

Apaixonei-me por alguém a quem vejo dores antigas quando lhe olho. E o melhor disso, é poder-lhe ver o reflexo da esperança. Abrir o coração é difícil, baixar as muralhas é ainda pior, mas saber que o fazemos a alguém que nos faz o mesmo de volta, tira-nos as palavras.

Apaixonei-me e nem sei como.

Apaixonei-me por alguém que sei que foi moldado por outra mulher. Apaixonei-me por alguém que sei que se perdeu algures no caminho. Apaixonei-me e não sei lidar com isso. Mas no meio de tudo de alguém se apaixonar de novo, vem a força reerguida, reunida.

Escrevi algures aí que quando estamos partidos já não amamos facilmente, como os outros. Escrevi que quando quem está partido ama, ama densa e dolorosamente. E é verdade.

Amar assusta. Sussurar “amo-te” torna-se na maior prova de nós mesmos. Assumirmos a alguém que o amamos quase que dói. Como se fosse um contrato qualquer com o diabo, de que quase fugimos a sete pés. E por muito que queira, há alguma coisa que ainda dói. Talvez o medo de o fazermos, de que por algum motivo alguma coisa nos fuja. Queremos meter o outro em cima da árvore, aconchegado no ninho, algures onde nada nem ninguém chegue.

Ter amado e ter sofrido consegue doer sempre.

E amar de novo, no meio de tanta escuridão por que passámos pode doer ainda mais.

Apaixonei-me mas não sei como.

Talvez porque sempre acreditei no amor, de que é impossível estarmos nesta vida sem alguém, por muito completos que estejamos.

Apaixonei-me e não sei o que fazer. 



Redigido por: SusanaCMMelo