quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Rosa-dos-ventos



“E se não resultar?”, “E se ele não gostar de mim da mesma forma que eu gosto dele?”, “E se ele me enganar?”, “E se houver outra mais interessante?”,  “E se o tempo fizer as coisas mudarem?”, “E se for eu que afinal mudo de ideias?”, “E se depois eu é que ficar com má imagem?”… E se…?
Passamos tanto tempo preocupados com o que pode acontecer, imaginando variados cenários, criando se calhar problemas onde eles não existem que nos esquecemos de viver o agora. Muitas vezes esquecemos até que grande parte dos problemas que irão surgir se deve aos problemas que colocamos agora… Se deixássemos tudo fluir, se deixássemos tudo seguir o seu curso natural… seria mais fácil. Mas não dá, não é verdade?
Colocamos todas as hipóteses e criamos todos os cenários porque sabemos que o caminho não é em linha recta. Mas verdadeiramente começo a achar que nós é que o distorcemos. O ser humano tem grandes problemas em aceitar algo que não lhe dá trabalho ou que é diferente, gosta de complicar, gosta de andar às voltas, gosta de bater com a cabeça nas paredes que ele próprio ergueu à frente do passeio liso que tinha à sua frente, gosta até de se desculpar criando estereótipos. O ser humano gosta daquilo que não tem. Gosta possivelmente até do que não vai ter. Mas com certeza gosta mais daquilo que já teve e por qualquer motivo perdeu. E o mais incrível de tudo é que cada um de nós sabe de tudo isso. Mas lá está, adoramos dar cabeçadas.
Mas ainda mais que cabeçadas, adoramos ferir a nossa própria dignidade, o nosso orgulho, os nossos valores. Somos tão cegos que nos deixamos humilhar por alguém que possivelmente não está nem aí. E depois disso? Bem, depois disso é como estar bêbedo. Como apanhar uma daquelas bebedeiras que nos dá uma semana de ressaca e duas de aversão ao álcool. Aham, been there. No entanto, pior é quando não sabemos que podemos direccionar o nosso orgulho e os nossos valores. Então direccionemos. Rumemos a algo sem pensar nas possíveis consequências, nos mais variados cenários. A vida não está para isso, nós não estamos para isso. Estamos para algo que faça sentido, que seja verdadeiro mas acima de tudo, que seja correcto. Mesmo tendo o correcto múltiplas interpretações. Não nos deixemos levar pelo que a sociedade quer. Apesar de eu defender tudo aquilo a que tenho direito como mulher, mas antes disso como pessoa, tenho noção de que por muitas crenças, valores e boas intenções que tenha, a sociedade vai ter sempre mais um estereótipo a defender, mas tentemos mudar isso. A verdade é que nós, mulheres, vamos ter muitas vezes de seguir a regra do “se fizeres isto ou aquilo acaba-se a tua reputação” porque é impossível lutar contra todos os lados, é impossível fazer frente à rosa-dos-ventos. Então, acabamos por por vezes ter que abdicar de um ou outro direito, em prol de outros tantos, ou nem que seja para sobrevivermos no meio disto tudo. Porque falar é fácil, é fácil falar mal de outra mulher quando sabemos que ela fez algo que vai contra as ideias estereotipadas e o problema é que não é fácil contrariar isso, até porque algumas vezes na situação dela faríamos o mesmo (ou não). A sociedade fez tudo tão bem, que nós próprios temos dificuldade em lutar contra nós visto que todos nós fazemos isso em alguma circunstância, embora uns mais que outros. Eu já fiz. Mais vezes do que gostaria, diga-se. E sei bem que até eu própria ganhar consciência do que se passava, eu sempre fiz. Às vezes ainda caio na tentação de fazer, mas recomponho-me.
Nós desde que nascemos julgamos os outros. Nós nascemos a julgar os outros. Podíamos ter nascido a compreender, a amar e a perdoar, não é? E nascemos. Mas tão depressa a sociedade se encarregou de nos formatar que não tivemos hipótese de dizer “não, não é isto que quero” ou “não, não é isto que quero para o meu filho”. Já quase que está intrínseco! Então resta o quê? Quebrar as regras? Que seja, quebremos então. Ganhemos consciência do que fazemos inconscientemente. Vamos formatar por cima do que foi formatado. Mais tarde ou mais cedo trará frutos, mas comecemos já. Porque… Sociedade para aqui, sociedade para ali só que esquecemos que a sociedade somos nós. Então, fechemos os olhos, inalemos fundo e digamos “esquece isso e segue”, porque a vida não espera. Por isso… 
“E se” parasses com as tuas merdas, já terias vivido mais?


 Redigido por: SusanaCMMelo