Odeio iogurtes.
Odeio. Dão-me a volta à barriga, enjoam-me, sabem mal, alguns deles até cheiram
mal. Mas dou por mim a comer iogurtes como um macaco come bananas. Acho
incrível a capacidade que o ser humano tem de suportar coisas de que não gosta,
que lhe fazem mal e por aí além. Se bem que o iogurte não é mau no sentido em
que entre ter um bolo com cobertura de chantilly e um iogurte, óbvio que é mil
vezes mais saudável comer a porra do iogurte. E cá em casa é assim. A titi faz
questão de ter mil e uma espécies de bolos, doces, bolachas e afins, e eu que
faço questão de tentar ser aceitavelmente elegante, tento fugir a essas
injecções de calorias. Sim, porque toda a gente sabe que eu estou sempre a
comer. Tenho sempre comida comigo, mas dessa comida que tenho tento ser o mais
saudável possível nas escolhas que mantenho na minha mala. Voltando ao tópico
inicial dos iogurtes: odeio mas como. E agora é que vem a questão fundamental…
como é que nós, seres humanos, pessoas, com sentimentos, sensações (e por
sensações obviamente que me refiro às 5 sensações: visão, audição, olfacto,
paladar e tacto), com capacidade de reconhecimento dos nossos gostos,
qualidades, defeitos e tudo o mais, porquê que na hora em que temos que lidar
com um homem (ou uma mulher), não conseguimos juntar tudo isso em nosso
favor? É que eu juro que não me cabe na cabeça como é que nós, mulheres,
somos capazes de aguentar tanto. Digo as mulheres porque desde há muito tempo
que considero que as mulheres dentro de uma relação e fora dela, têm uma maior
capacidade de sofrimento do que os homens. Os homens perdem a paciência rápido,
com grandes dramas, com grandes indecisões, com grandes esperas. Para eles ou é
ou não é, e se é então que seja logo. Não se deixam perder tempo na indecisão,
não se deixam na esperança, não se deixam em stand-bye. Não aguentam ficar uma
noite em casa sabendo que nessa noite a namorada deles vai sair. Não aguentam
ficar meses na esperança de que na relação algo mude. Não aguentam que algo
esteja mal para o lado deles. Quando está, simplesmente vão sair, ou batem a
porta. Nós não. Nós temos sempre aquele fio de esperança que nos faz ficar à
espera da mensagem que nunca vai chegar, da chamada que nunca vamos ter o
prazer de rejeitar. Porque eles não se deixam rejeitar desse modo. Mas nós
acabamos por deixar. Corremos mil vezes atrás do mesmo homem, mesmo sabendo os
seus mil defeitos, mesmo tendo consciência de que ele nunca vai mudar e nunca
nada vai mudar e ser como nós queremos que seja. Já tive amigos meus (homens)
que me perguntavam como é que eu aguentava, que se fossem eles não conseguiam,
que para aguentar todas essas coisas é preciso ter uma grande capacidade de
sofrimento. E é coisa que eu sempre tive. E apesar de agora ao olhar para trás
sentir que fui literalmente uma burra, sinto-me menos mal quando percebo que
tal como eu há muitas outras.
Ontem estava a
falar com uma das minhas melhores amigas e claro que um dos assuntos foi
rapazes. Naquela conversa, em cada coisa que ela dizia era como se eu estivesse
a reviver a minha vida amorosa dos últimos tempos. Basicamente ela vive algo
baseado no “um dia de cada vez, amanhã logo verei como será” e até aí tudo bem.
O pior é quando chega a parte do “eu já não digo nada”. Quantas de nós nos
cansamos por lutar vezes sem conta por algo que não muda e só piora? Mas apesar
de tudo ficamos lá, porque apesar de tudo é lá que sentimos que pertencemos e
apesar de tudo continuamos a amar aquela pessoa. Mesmo que seja a pessoa mais
retardada à face da terra e mesmo que só faça merda corrida. No fundo é a tal
réstia de esperança que nos faz permanecer lá, mas será que essa réstia de
esperança dura muito mais tempo? A verdade é que essa tal “réstia de esperança”
chega a durar mais tempo do que toda a outra esperança que já se esgotou. Acho
que é porque quando não queremos ir embora nos agarramos com unhas e dentes, e
damos desculpas a nós próprios como, por exemplo, “ah não, isto é só uma fase
má que está a demorar a passar” ou “eu sei que ele não faz por mal” ou “ah ele
tem andado ocupado, não tem dado para conversarmos com cabeça sobre os assuntos
a falar”, enfim, mil e uma desculpas esfarrapadas que damos a nós mesmos para
desculparmos os outros e assim, prolongarmos um bocadinho mais o nosso
miserável sofrimento. A pergunta que acabamos por fazer constantemente ao final
do dia é “será que vale a pena?”. Acho que acabamos por nunca saber ao certo.
Porque nas alturas em que nos enganamos a nós próprios só para não irmos embora
é porque não queremos ir embora (logicamente) e por isso, nessas alturas
achamos sempre que vale a pena. Mas e no fim, vale mesmo a pena? Se existe
tanto sofrimento, tanta angústia, tantas palavras engolidas em seco, porquê
continuar? Mas pegando num outro ponto de vista: se há tanto sofrimento
aguentado até ao momento, então não será isso sinal de que vale a pena?
Já não sei.. estou
confusa e com fome, vou comer um iogurte.
Talvez comer os
iogurtes seja numa tentativa de digerir mal suficiente para não ter de digerir
mais males. Acho que é isso, talvez seja isso. Se calhar devia apostar no
Actimel, aquele do L. Casei Imunitass, e deixar os continentes e os nestlés da
mão. Chega de males, chega de dores no peito e sufocos. Chega de engolir sapos.
Simplesmente chega. Sou nova demais para isto. Porquê dar o meu coração a
partir agora? Mas para quê e porquê guardar os cacos partidos? Não quero
coração, nem corações. Nem sapos. Quero um iogurte.
Redigido por: SusanaCMMelo
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