quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Mas quando é que isto acaba?

Ouvi-te chegar e fiquei parada à tua espera. A saudade que tinha de ti era equivalente a 10 anos ou mais sem te ver. E eu todos os dias esperava, com a fidelidade igual à de um animal, por ver-te chegar.

Todos os dias tinha uma surpresa para ti. Uns dias bolos, outros sobremesas, outros o almoço, o lanche ou o jantar, dependendo da hora a que te apetecesse chegar. E o mundo parava de rodar cada vez que esperava mais do que era de esperar por ti. Uma hora, duas, três… cheguei a ver-te chegar de madrugada, perdido, pelo meio dos raios matinais que se queriam fazer ver. E de todas as vezes, todos os dias, todos os meses e anos nunca me faltou um sorriso para te dar.

Um sorriso aqui, um murro ali.

Sempre quis pensar que com o tempo as coisas mudariam. Que melhorariam.

Chegaste a casa com o jantar posto na mesa, as velas do costume acesas e o meu melhor sorriso. Em pé, encostada ao balcão frente à porta, a contar os segundos até ouvir-te chegar. Quando finalmente te vi, soube que de todos os meus esforços não iria haver nunca algum que te fosse suficiente. E li-te a raiva nos olhos. Mais sabia eu como iria acabar.

Largaste tudo, dirigiste-te a mim, esbarrando em tudo o que se encontrasse no caminho e empurraste-me.

Aproveitei a força que fizeste em mim para me afastar de ti e correr o mais possível, mesmo que não houvesse muito para onde correr. Mas corri. Consegui chegar ao quarto e fechei a porta. Os teus gritos ecoavam pela casa, assim como as tuas ofensas e os teus murros.

E por entre tanto barulho eu só conseguia pensar no quanto eu gostava de poder apagar as luzes e jantar sob as velas, sem ofensas e ameaças. Mas a realidade já estava a ser sufocante, o meu corpo tremia e as forças consumiam-se. Eu sabia que a minha fraqueza ia ceder, como sempre, e já tinha o cenário todo mais que decorado. E eu sabia melhor do que queria acreditar que por muito que já conhecesse o guião todo e assim me pudesse esquivar, pois conseguia prever os teus próximos passos e antecipar a minha defesa (como quando me empurraste), não me podia nem conseguia esquivar de tudo.

Senti os meus braços e costas ceder, as minhas pernas fraquejar. Inspirei, uma prece rápida e uma engolida de choro. Mas já era tarde demais. Do quarto não havia para onde correr. A porta abriu, mal dei um passo de fugida, senti os cabelos serem puxados, consegui virar-me e por muito que tentasse, uma mão agarrou-me e apertou-me o pescoço. Uma mistura entre calor e frio, uma mistura entre a vontade de lutar e a de me deixar ficar. Olhei-te nos olhos na esperança de te conseguir ler, mas não havia nada com que me pudesse familiarizar. A raiva que tanto tinhas dentro de ti nunca a consegui perceber. E por breves instantes me lembrei de quando quem fazia as surpresas eras tu e que quando as fazias eram rosas e poemas, no teu mais belo e encantador “eu”.

Mas rosas e poemas não duram uma vida, e no meio de toda aquela confusão deixei de me debater e de tentar, ainda que de forma impossível, engendrar uma forma de escapar de ti.

Apaguei-me. Larguei as poucas forças que me restavam e deixei-me ali. E no meio das minhas lágrimas sussurrei a Deus que fosse dessa vez que levasse a minha alma.

Mas não levou.

Perdi-me no meio do tempo e do espaço e desejei, por mais uma vez, nos segundos que me restaram de lucidez poder evaporar-me.

Entre o céu e a terra foi onde Ele me pôs. A claridade que vem das janelas arde-me nos olhos.

Chamo-me Laura, tenho 25 anos, uma costela partida, um ombro deslocado, um olho inchado e nódoas negras e dolorosas por todo o corpo. E, como de todas as vezes, flores e cartas ao fundo da minha cama de hospital. Flores que nunca mais acabam e que só de olhar me deixam enjoada.

Nunca o consegui perceber. O porquê de numas vezes aquilo a que durante tempo me iludi chamando de amor, e noutras vezes tanto ódio? Que mal fiz eu? Onde é que eu errei? Qual é a minha falha de toda a vez em que mudaste o teu olhar para algo demoníaco? De toda a vez em que me sorrias e logo a seguir me batias como se me odiasses? Onde está o príncipe do nosso início, onde está o cavalheiro que prometia mundos e fundos? Tivesse eu sabido logo de começo como iria ser, não tivesse eu tido toda a ingenuidade que tive. Quem sabe não estaria agora a rezar por mim própria, para que os meus olhos se fechem e nunca mais abram. Soubesse eu do teu ciclo vicioso e doentio, de como me chamas fraca mas fraco é o teu ser. De como alguém consegue ser tão horrivelmente doente. E por “amor” achamos que ficamos. E de “amor” nada sabemos. Porque no amor não há disto, no amor tem que haver respeito e uma mão cheia de coisas que não sei bem o que são, mas que não interessam muito só porque na primeira já tu pecaste mais de mil vezes. E dos mundos e fundos, só lhe vi os fundos.

E a claridade está-se-me a dissipar. De repente ficou tudo turvo, a querer escurecer. Dói-me o corpo e a alma e de tudo o que me dói já nem sei onde dói mais. Sinto-me como a escorregar pelos lençóis, a cabeça a andar à roda, o sangue a fervilhar e ao mesmo tempo a regelar.

Tenho uma hemorragia interna grave.

Mas quando é que isto acaba?






Redigido por: SusanaCMMelo



quarta-feira, 2 de novembro de 2016

É legítimo?


No meio dum dia sofrido no meio de lições esquecidas, disseram-me que a nossa vida só nós controlamos e que, se há algo por que estamos a sofrer, que temos que ter em conta se realmente vale a pena sofrer por isso ou se é apenas o nosso coração a iludir-nos. Mas que no meio de tudo, que não nos deixemos humilhar demais nem moldar demais, senão um dia olhamos para trás e perguntamo-nos como chegámos a esse ponto e nem nos reconhecemos mais. Que no entanto, só nós sabemos o que vale a pena e até quando vale a pena.

E no meio de um quarto escuro ainda consigo lembrar-me de choros, gritos e cheiros antigos. Ainda consigo sentir as cicatrizes antigas. E de cada vez que sofro, sofro por todas elas. E que de cada vez que me é feito sofrer, sofro em memória a quem deixei nas páginas de livros já lidos. O meu avô dizia que quando eu arranjasse um namorado a sério, que tinha que ser um homenzinho. Que tinha que ser alguém que me cuidasse e amasse. E ele abanava a cabeça como quem sabe que hoje em dia as pessoas se dão umas demais e outras de menos, mas que acabamos todos por mais cedo ou mais tarde já nem nos dar.

Não nos damos porque ficámos sofridos, em algumas das páginas e porque não fechámos o livro, porque talvez decidimos continuar a lê-lo independentemente do mal que nos estivesse a fazer, porque na altura não o reconhecíamos como mal, mas sim como uma hipótese de ver a história a mudar. Ficámos sofridos e pior que ficar sofrido é fazer sofrer. Fazer sofrer quem por nós travaria as maiores guerras e atravessaria os maiores desertos, pularia de estrela em estrela e mesmo de cara esmagada no chão, se levantaria para nos proteger. E daí vem o destino, o fazer doer a quem já doeu demais e o não conseguir evitar que não faça doer. Daí vêm corações partidos e mentes desacreditadas.

Escrevi algures que acredito em amores para a vida, no “felizes para sempre”, ainda que discutam, e que no meio de tanta promiscuidade, possa haver um homem em mil e uma mulher em mil que acreditem no amor e que esse homem e essa mulher um dia se possam encontrar. Mas também escrevi que o amor não existe hoje em dia. Que independentemente do que aconteça há sempre alguém melhor, mais bonito e mais acessível. E que tentar custa muito, que amar na verdadeira definição da palavra é quase que impensável. Já não se sente e já não se pensa. Costumo tentar acreditar que quando se gosta, se pode fazer crescer e se pode trabalhar em conjunto no que se tem. Porque ninguém rema contra a maré e porque para dançar o tango são precisos dois. Porque acredito que podemos sempre investir no que temos seja em nós ou em algo que seja nosso, ou a que possamos de algum modo chamar nosso. Nada de deitar fora nem trocar. O meu pai, ao longo do tempo em que vivi com ele, de toda a rara vez em que me ofereceu alguma coisa sempre fez questão de dizer que era a primeira e última vez que me dava o que quer que me estivesse a dar. Que se eu partisse, estragasse, perdesse ou fosse o que fosse, não voltaria a ter outro igual. Passou por brinquedos, livros, telemóveis, qualquer coisa que viesse dele. Fui ensinada com o culto do “estima para durar” acompanhado do “um dia vais dar valor” e do “para ti é”. Hoje em dia, percebo que esse culto realmente é uma forma de estar na vida. Tão depressa posso ganhar como posso perder. Passe por trabalho ou namoro, o que seja. Mas que, se eu fizer por e lutar por, as probabilidades de ser eu a ganhar serão maiores. E ele nem estava errado de todo, visto que, de todas as frases que ouvia do meu pai, hoje posso aplicar sempre uma para todas as situações, ainda que boas ou menos boas.

E então, o que acontece quando, depois de um coração partido por mil vezes, nos voltamos a dar a alguém, ainda que aos tropeços? Ainda que, por muito esforço que possamos fazer na viagem, nos tentemos dar o melhor inteiro de nós que consigamos arranjar, ainda que colado com cuspo? E o que acontece quando, o destino junta ou pensa que junta dois corações partidos? Será que é de alguma forma legítimo para connosco nos reservamos a certas coisas e afastarmos outras tantas? Fazer sofrer, ainda que inconscientemente, porque estamos ou fomos sofridos? Fazer pagar quem de nada culpa tem, por erros por outrens cometidos? Haverá algum livro de amor ou simplesmente de ajuda que nos indique o degrau a seguir? Como, se “cada um é como cada qual” e “as relações são todas diferentes”? Será que somente um sexto sentido e as energias interiores dão conta do cargo? Ou será, que sequer, alguma vez, um coração poderá ser reabilitado?

Respostas escassas para perguntas que a cada quarteirão se triplicam num dia em que de sofrido já não podia ter mais nada e que em nada um quarto escuro me poderia ajudar. E são mais as voltas e os cigarros que as conclusões. São mais os desassossegos de coração que a vontade de dormir à noite. É legítimo pagarmos pelo passado de alguém?

Sinceramente, a melhor definição de amor que alguma vez ouvi foi numa noite em que já nem me lembro como acabou. E honestamente nem me lembro da definição em si, mas sei que soou bonito.

Soou a algo sincero e de certo modo magoado. E porquê que tem que haver beleza naquilo que foi estragado? Ainda que de belo possa haver um olhar ou um sorriso aleatórios, que vêm inesperados, de alguém que julgamos não nos conseguir olhar ou sorrir em certas alturas porque de demónios têm o cérebro e o coração cheios?


Será que, ainda que por breves instantes, em algum universo paralelo, onde todas as matemáticas batam certo e todos os sentimentos sejam puros e bem desenhados, possa haver a pequena possibilidade de o meu eu não estar a ter um dia de merda?




Redigido por: SusanaCMMelo




sexta-feira, 29 de julho de 2016

Quis contar-te

Quis pegar em mim e mandar-te uma mensagem ou ligar-te.

Hesitar mas acabar por dizer-te que estava bem.

Que estava de uma vez por todas a seguir os meus sonhos, a fazer o que era melhor para mim.

Quis contar-te para onde estava a ir, que estava a fazer uma viagem de autocarro de horas e horas e que apenas levei uma mala.

Quis contar-te como é que consegui o dinheiro para deixar a nossa cidade, que trabalhei por horas e horas, dias e dias, sem folgas e com cansaço acumulado.

Quis contar-te que estive sozinha este tempo todo, que a vida sem ti resume-se a pouco.

Quis contar-te que apesar disso nunca desisti e que o que saiu de mim foi sempre o meu melhor.

Quis contar-te sobre tudo o que tinhas perdido.

Que as árvores que vejo fora da janela não parecem tão bonitas.

Que o barulho de outras pessoas à minha volta me incomoda mais que nunca.

Que o sol e a lua parece que perderam o brilho.

Quis contar-te que te odiei mas que guardei o que restou de ti.

Que sinto falta do teu sorriso.

Quis contar-te que tens o olhar mais bonito e encantador que já vi.

Quis contar-te tanta coisa, por gostar tanto de ti, ou da ideia de ti, que me esqueci de quem realmente és.

Encontrei-me para te perder.

Descobri-me para perceber que nem sei quem tu és.

E no final de tudo, pergunto-me como seria se eu ainda soubesse o quão bonitas são as árvores e as flores.

Se eu soubesse apreciar outros sorrisos.

Se eu pudesse gostar da ideia de outro alguém ou de mim mesma.

Pergunto-me, no meio de tudo, vendo a estrada e as árvores lá fora, bem por fora da janela, como seria se, ainda que por um segundo do pensamento, eu nunca tivesse gostado tanto de alguém, que não tivesse gostado tanto de mim.

E lembro-me, no meio de tudo, que nem sequer sei quem és.

E pergunto-me se a vida seria mais bonita se de vez em quando não amássemos, nunca tivéssemos amado ou nunca viéssemos a amar.

E lembro-me que, não há coisa nenhuma no mundo que seja melhor do que ver o que há fora da janela.


E que, a próxima vez que falar contigo te vou dizer que estou bem, sem hesitar.





Redigido por: SusanaCMMelo



sábado, 18 de junho de 2016

Mudam-se os tempos.

Pergunto-me vezes sem conta sobre até onde devemos deixar as coisas ir.

Se podemos traçar a nós próprios caminhos diferentes e possibilidades diferentes a seguir. Se nos é legítimo de vez em quando sermos um bocado egoístas. Batermos o pé e dizermos não.

O meu ex-namorado costumava dizer que sou demasiado boa com as pessoas. Que não sei dizer que não e que por ser tão boa quem se aleija sempre sou eu. Tinha razão. E por ser tão boa com ele acabei trocada. É nisso que me questiono bastantes vezes. Mas de toda a vez que tento ser um pouco má acabo sempre ouvindo a mesma história. “Não ganhas nada em ser assim”. Não sei o que ganho então. Percebo agora os erros que cometi no passado e o porquê de todos os relacionamentos passados terem saído fracassados em todos os piores sentidos. Não que eu fosse má como as cobras, não que fizesse o mal. Muito pelo contrário. E esse é o meu mal. Onde será que devemos pôr um ponto final? Quando será que devemos dar um grito e bater o pé?

Sendo que sou apologista de mulheres calmas, com sentido de humor, perspicazes e divertidas quando têm que o ser, mas no fundo sempre humildes. E sendo que tento seguir esse padrão. Será que existe realmente um ponto em cima do i desesperado nessas mulheres? O papel delas passa por calar e dar desprezo a um homem que amam ou gritam e debatem-se até não poderem mais?

Tenho uma amiga que como eu gosta da sua independência. Essa mesma mulher diz-me que é independente e como tal não precisa de ninguém para ser feliz. Essa mulher é o hino das mulheres. E só nisso todas devíamos ser um bocadinho como ela.

Eu acredito em amores para a vida, no “felizes para sempre”, ainda que discutam. Acredito que no meio de tanta promiscuidade que há por aí ainda haja alguém de verdade. Um homem em mil e uma mulher em mil que acreditem no amor. Aquele amor que hoje em dia já não se ouve falar. E acredito que esse homem e essa mulher um dia se possam encontrar, mas rezo para que não se deixem sugar pelo mal que por aí há. Acredito que num dia ou numa noite qualquer se encontrem por acaso ao virar da esquina. Acredito em amores a cem porcento correspondidos, em que independentemente das feridas passadas possa haver paz e harmonia, tudo em sintonia com o amor e a fidelidade.

Mas acredito também que um coração partido seja impossível de ser consertado. Porque vai desgastando, desgastando, desgastando, até sobrar apenas a vontade de amar mas ao mesmo tempo o medo de amar. E o medo fala mais alto porque adveio do mal. E aprendemos melhor com lições rígidas e pratos partidos do que com as poucas rosas que recebemos. O medo toma-nos. A insegurança vive-nos. Não se cola o que em tempos se partiu. Não se pega nos cacos e faz-se de conta que nada aconteceu. Os cacos cortam, e lembrarmo-nos sequer de que algo em nós foi partido sangra-nos ainda mais.

Eu devia ter vivido no tempo em que os senhores eram senhores e as senhoras senhoras. No tempo em que realmente se sabia dar valor ao que se tinha, ou que se estava prestes a ter. Devia ter recebido rosas ao portão e cartas no correio. Devia ter tido o prazer de ser conquistada por um homem que realmente me quisesse. Noutros tempos, noutras circunstâncias e de certo com outras vontades.

O amor não existe hoje em dia. Não há Romeu nem Julieta hoje em dia. Não há ninguém que ame tanto alguém a ponto de não suportar estar sem esse alguém. Ninguém se deixa ser tão ingénuo, tão ultrapassado. O que gostamos mesmo hoje em dia é de erguer a cabeça e lançar a cana de pesca de toda a vez que algo nem sequer chega ao final de fracassar. A cara vira com qualquer passarinho e os olhos comem à velocidade da luz e o respeito suposto fica na suposição. Há sempre alguém melhor, mais bonito e mais acessível. Tentar custa muito, amar na verdadeira definição da palavra é quase que impensável. Já não se sente, não se pensa. Homens usam a cabeça inferior em vez da superior e as mulheres já nem massa cinzenta têm.

Sou de uma geração perdida, que não sabe lutar pelo que quer e que desconfio que nem saiba o que quer. Pertenço a um mundo onde o amor tem uma nova definição e cujo se encontra em cada esquina.


No entanto, cada esquina é uma esquina perdida.



Redigido por: SusanaCMMelo



quarta-feira, 20 de abril de 2016

Apaixonei-me e nem sei como.



Chega uma altura em que já não sentes as borboletas da adolescência. Nem o corpo a tremer da ansiedade constante. Nem a curiosidade do que vem a seguir.

Não sei o que sentes ao certo. Talvez a felicidade de algo que sabes que pode durar. Independentemente de quem tenha estado e já não está. De quem tenha ido e confias que não volte mais. Já não dás o teu mundo, nem prometes outros mundos. Sabes o que tens e o que vales e isso chega. Chega uma casa com paredes arranhadas. Chega abrir uma janela para o sol entrar. Tudo porque sabes que antes de ti houve outro mundo. Tal como sabes que tu já tiveste outro mundo. E passas a aceitar isso. E o mais incrível é que o entendes.

Sabes o desgaste do que falhou. Sabes o desgaste do que não serve mais. Seja porque for. E aceita-lo.
Apaixonei-me e nem sei como.

Nem sabia que era capaz de tal.

Apaixonei-me por alguém com cicatrizes mas que ainda assim, me consegue fazer sorrir. Nem eu sabia que em alguma divisão pudesse caber tanta cicatriz. Talvez por sabermos que em algum lado pode haver alguém disposto a dividir as nossas cicatrizes e a fazer-nos deixar de calcar nos nossos calos.

Apaixonei-me por alguém a quem vejo dores antigas quando lhe olho. E o melhor disso, é poder-lhe ver o reflexo da esperança. Abrir o coração é difícil, baixar as muralhas é ainda pior, mas saber que o fazemos a alguém que nos faz o mesmo de volta, tira-nos as palavras.

Apaixonei-me e nem sei como.

Apaixonei-me por alguém que sei que foi moldado por outra mulher. Apaixonei-me por alguém que sei que se perdeu algures no caminho. Apaixonei-me e não sei lidar com isso. Mas no meio de tudo de alguém se apaixonar de novo, vem a força reerguida, reunida.

Escrevi algures aí que quando estamos partidos já não amamos facilmente, como os outros. Escrevi que quando quem está partido ama, ama densa e dolorosamente. E é verdade.

Amar assusta. Sussurar “amo-te” torna-se na maior prova de nós mesmos. Assumirmos a alguém que o amamos quase que dói. Como se fosse um contrato qualquer com o diabo, de que quase fugimos a sete pés. E por muito que queira, há alguma coisa que ainda dói. Talvez o medo de o fazermos, de que por algum motivo alguma coisa nos fuja. Queremos meter o outro em cima da árvore, aconchegado no ninho, algures onde nada nem ninguém chegue.

Ter amado e ter sofrido consegue doer sempre.

E amar de novo, no meio de tanta escuridão por que passámos pode doer ainda mais.

Apaixonei-me mas não sei como.

Talvez porque sempre acreditei no amor, de que é impossível estarmos nesta vida sem alguém, por muito completos que estejamos.

Apaixonei-me e não sei o que fazer. 



Redigido por: SusanaCMMelo



quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Lembra-te.



Um dia vais ser a lição de alguém. 

Um dia vais amar tanto alguém que vais acabar por matar o que vocês têm.

Um dia vais matar quem tens ao lado por em tempos te terem morto.

E um dia vais ensinar a amar quem nunca pensou ser capaz.

Um dia vais querer dizer a algúem que o amas porque é o que sentes. Mas vais perceber que nunca o dizes por medo.

Um dia vais pedir a alguém que quando encontrar o próximo amor da sua vida se lembre de ti.

Porque acreditas piamente que deixaste um bocado de ti na falta do bocado que levaste do outro.

Um dia vais dizer “lembra-te do que te ensinei” porque sabes os danos que causaste.

Mas sabes melhor o dano de que tu és.

Um dia vais cair em ti e vais saber que não há volta a dar. Que um corpo feito de amor é um caco de vidro ele mesmo.

Vais saber que estás estragada, podre.

Vais saber que não há volta a dar mas mesmo assim anseias por amar.

Vês o amor em cada esquina. Em cada olhar de desejo.

Iludes-te. E de todas as mil vezes estragas-te mais um bocado.

Um dia acreditas a cem por cento que aquela relação vai ser a tal. Duradoura. Forte.

Mas mal sabes que abana com o vento.

Fraca, frágil.

Vais achar que ficaste forte, que és indestrutível. 

Mentira.

Vais descobrir aí que és a lição de vida de alguém. Porque já não amas facilmente como os outros.

Quando amas, amas densa e dolorosamente. É um amor tão denso que se torna obscuro, assustador.

E de tão partida que estavas, acabas partindo alguém. E tu toda te partes mais.

Tornas-te no karma dessa pessoa.

Ensinas com o mal e não com o bem. Porque tentaste mas estás demasiado podre.

Podre no chão.

Um dia vais ser a lição de alguém e eu já sou a tua.

Sou a lição de quem não soube lutar.

Sou a lição de quem aprendeu a amar, de alguma forma, um corpo quebrado.

Sou a lição de quem não se soube quebrar. E precisou de ser quebrado.

Redigido por: SusanaCMMelo

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Desculpa.

Tenho uma amiga que diz que me preocupo demasiado com o passado das pessoas.
Talvez.
Porque talvez sempre pensei que queria ser a melhor possível para quando o amor da minha vida surgisse.
Hoje peço desculpa.
Peço desculpa ao amor da minha vida pelas bocas que beijei, pelos corpos que me tocaram e pelas mentes que iludi.
Peço desculpa por me ter deixado consumir de tal modo, que hoje já não acredito em ti.
Não acredito no dia em que apareceres.
Não vou acreditar quando me sorrires por entre todos os outros sorrisos.
Vou achar que és mais um como os outros todos.
Vou achar que afinal não existes enquanto podes muito bem estar a cruzar a próxima rua e por infelicidade do destino não ser nesse dia que nos cruzamos, ou por infelicidade do mesmo ser nesse dia que me olhas mas por receio desvio o olhar.
Peço desculpa, amor da minha vida, pela falta de confiança que tenho em ti, que tenho em mim e que tenho no quer que seja que fale de amor.
O amor é uma merda.
Desculpa pelo coração partido, pela indiferença e pelo menosprezo.
Desculpa por não conseguir confiar e por não ter vontade de tentar.
E podias tu muito bem ter beijado a mesma quantidade de bocas que eu.
Peço desculpa porque tentei ser a melhor em vão.
Tentei ser a melhor para hoje ser a pior.
E não há homem que queira um coração tão destroçado e desacreditado.
Nem eu tão pouco quero algum homem.
Queria a ti.
Mas tu tardas em chegar.
Ou já chegaste com a mesma rapidez com que foste embora.
Mas se assim foi dá a volta.
Eu acreditei, é verdade, em amores impossíveis.
Acreditei nas promessas cheias de cérebros vazios.
Tenho o coração pisado e os joelhos em sangue.
Durmo com a impaciência e a impertinência é a amante.
O carinho mudou de morada e o orgulho é o vizinho do lado que janta comigo todos os dias.
Desculpa, amor da minha vida.
Por ter dado tanto de mim a quem merecia tão pouco.
E por te afastar quando me apareceres.
Só te peço que tenhas a força de ficar e de me provar que o que estiver destinado a ser, será.
Sem mundos e fundos, só as mãos vazias de alguém que tal como eu se cansou das mentiras e dos jogos e decidiu que era a altura.
Altura de não sei bem o quê que todos nós achamos que temos.
Porque todos temos pavor de acabar só.
Então desculpa.
Porque te pensei ver em todos os homens que escolhi.
Porque de um modo ou de outro me deixei massacrar, ao ponto de hoje já nem te querer encontrar.
E se alguma vez te encontrei e te perdi, desculpa pelo que fiz a ti.
Desculpa amor da minha vida, pela minha hipocrisia.
Por exigir de ti nem aquilo que tenho em mim.

Redigido por: SusanaCMMelo