sábado, 18 de junho de 2016

Mudam-se os tempos.

Pergunto-me vezes sem conta sobre até onde devemos deixar as coisas ir.

Se podemos traçar a nós próprios caminhos diferentes e possibilidades diferentes a seguir. Se nos é legítimo de vez em quando sermos um bocado egoístas. Batermos o pé e dizermos não.

O meu ex-namorado costumava dizer que sou demasiado boa com as pessoas. Que não sei dizer que não e que por ser tão boa quem se aleija sempre sou eu. Tinha razão. E por ser tão boa com ele acabei trocada. É nisso que me questiono bastantes vezes. Mas de toda a vez que tento ser um pouco má acabo sempre ouvindo a mesma história. “Não ganhas nada em ser assim”. Não sei o que ganho então. Percebo agora os erros que cometi no passado e o porquê de todos os relacionamentos passados terem saído fracassados em todos os piores sentidos. Não que eu fosse má como as cobras, não que fizesse o mal. Muito pelo contrário. E esse é o meu mal. Onde será que devemos pôr um ponto final? Quando será que devemos dar um grito e bater o pé?

Sendo que sou apologista de mulheres calmas, com sentido de humor, perspicazes e divertidas quando têm que o ser, mas no fundo sempre humildes. E sendo que tento seguir esse padrão. Será que existe realmente um ponto em cima do i desesperado nessas mulheres? O papel delas passa por calar e dar desprezo a um homem que amam ou gritam e debatem-se até não poderem mais?

Tenho uma amiga que como eu gosta da sua independência. Essa mesma mulher diz-me que é independente e como tal não precisa de ninguém para ser feliz. Essa mulher é o hino das mulheres. E só nisso todas devíamos ser um bocadinho como ela.

Eu acredito em amores para a vida, no “felizes para sempre”, ainda que discutam. Acredito que no meio de tanta promiscuidade que há por aí ainda haja alguém de verdade. Um homem em mil e uma mulher em mil que acreditem no amor. Aquele amor que hoje em dia já não se ouve falar. E acredito que esse homem e essa mulher um dia se possam encontrar, mas rezo para que não se deixem sugar pelo mal que por aí há. Acredito que num dia ou numa noite qualquer se encontrem por acaso ao virar da esquina. Acredito em amores a cem porcento correspondidos, em que independentemente das feridas passadas possa haver paz e harmonia, tudo em sintonia com o amor e a fidelidade.

Mas acredito também que um coração partido seja impossível de ser consertado. Porque vai desgastando, desgastando, desgastando, até sobrar apenas a vontade de amar mas ao mesmo tempo o medo de amar. E o medo fala mais alto porque adveio do mal. E aprendemos melhor com lições rígidas e pratos partidos do que com as poucas rosas que recebemos. O medo toma-nos. A insegurança vive-nos. Não se cola o que em tempos se partiu. Não se pega nos cacos e faz-se de conta que nada aconteceu. Os cacos cortam, e lembrarmo-nos sequer de que algo em nós foi partido sangra-nos ainda mais.

Eu devia ter vivido no tempo em que os senhores eram senhores e as senhoras senhoras. No tempo em que realmente se sabia dar valor ao que se tinha, ou que se estava prestes a ter. Devia ter recebido rosas ao portão e cartas no correio. Devia ter tido o prazer de ser conquistada por um homem que realmente me quisesse. Noutros tempos, noutras circunstâncias e de certo com outras vontades.

O amor não existe hoje em dia. Não há Romeu nem Julieta hoje em dia. Não há ninguém que ame tanto alguém a ponto de não suportar estar sem esse alguém. Ninguém se deixa ser tão ingénuo, tão ultrapassado. O que gostamos mesmo hoje em dia é de erguer a cabeça e lançar a cana de pesca de toda a vez que algo nem sequer chega ao final de fracassar. A cara vira com qualquer passarinho e os olhos comem à velocidade da luz e o respeito suposto fica na suposição. Há sempre alguém melhor, mais bonito e mais acessível. Tentar custa muito, amar na verdadeira definição da palavra é quase que impensável. Já não se sente, não se pensa. Homens usam a cabeça inferior em vez da superior e as mulheres já nem massa cinzenta têm.

Sou de uma geração perdida, que não sabe lutar pelo que quer e que desconfio que nem saiba o que quer. Pertenço a um mundo onde o amor tem uma nova definição e cujo se encontra em cada esquina.


No entanto, cada esquina é uma esquina perdida.



Redigido por: SusanaCMMelo