Sinceramente? Começo a sentir saudade dos tempos em que adormecia
sem pensar em nada. Dos tempos em que apenas pensava nos meus dias, como quem
fazia uma revisão dos últimos acontecimentos. Dos tempos em que não sentia constantemente
aquele aperto que me impede de respirar livremente. Dos tempos em que podia
fechar os olhos sem que tu me viesses à mente. Tempos esses em que não tinha
medo de que ao fechar os olhos me escorressem quaisquer lágrimas. Mas esses
tempos não voltam.
Quanto mais vamos
vivendo, mais temos para reflectir. Talvez não esteja a ser clara. Vou dizer
antes: quanto mais vivemos e por conseguinte experienciamos, e portanto, nos
dispomos a sofrer, com mais cicatrizes ficamos. De modo que, quando não
queremos pensar em nada, vamos sempre pensar em algo. Simplesmente porque a
nossa mente gosta de nos torturar e se mantém activa 24/7. Por isso, quando não
arranja nada recente para nos massacrar lá vai ela buscar “coisas” que
achávamos que já estavam no baú. E não me digam que não é assim. Quer
queiramos, quer não, vamo-nos sempre lembrar dos que nos magoaram… e dos
outros. Digo “os outros” porque não é possível não magoarmos alguém nem não
sermos magoados. Mais simples não há. Podemos ter o maior cuidado do mundo, que
vamos sempre acabar por magoar alguém e alguém vai-nos sempre magoar. Seja com
uma palavra, um gesto, uma atitude… sei lá, até um olhar. Daí que, seja em que
altura for, o pensamento sobre determinada(s) pessoa(s) vai sempre aparecer. E
aí é que está o mal. Sei isto com toda a certeza porque já me lembrei de
pessoas que pensei já ter esquecido. Já me lembrei de coisas que pensei já ter
enterrado. E vivi feliz e despreocupada a pensar que estava de novo livre mas
de um momento para o outro vi-me a chorar por esses mesmos esquecimentos que
não estavam, afinal, esquecidos.
Tudo isto porque
nunca se esquece alguém que passou pela nossa vida. Seja uma boa ou má pessoa.
Tenha sido uma boa ou uma má experiência. Já dizia o ditado que
“Aqueles que
passam pela nossa vida não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si,
levam um pouco de nós”
Contudo, eu
gostava de conseguir escolher o que é que cada um me deixa. E assim fazia um
saquinho, mais feliz e recheado do que aquele que já tenho. Uma espécie de pote
de ouro que me levasse ao outro lado do arco-íris. Ou não, espera. É ao
contrário. Sendo assim, porquê que ando a coleccionar tanta merda?
Redigido por: SusanaCMMelo
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